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O grupo Semioce - Grupo de Estudos Semióticos da Universidade Federal do Ceará - existe desde o ano de 2008 e reúne pesquisadores e estudantes interessados em semiótica. O grupo está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística desta Universidade e dá primazia à Semiótica greimasiana em virtude do alto teor heurístico do método de análise desenvolvido em seus domínios. No entanto, por seguir o firme propósito de não compartimentalizar o saber, investe na permeabilidade entre a semiótica, em suas diversas vertentes, e outras disciplinas cujo foco de pesquisa seja a geração do sentido. O grupo mantém encontros semanais para debater temas relacionados à produção e interpretação do sentido em textos verbais, não-verbais e sincréticos.
Palestra: Para que serve a noção de gênero literário? Reflexões sobre as teorias dos gêneros.
Prof. Dr. Sémir Badir (FNRS/Université de Liège - Bélgica)
28/09 - 14h30 - Alditório Valnir Chagas - Faculdade de Educação/UFC
INSCRIÇÕES
O que é um gênero? Aplicada ao domínio textual, essa questão recebeu uma resposta descritiva nas ciências da linguagem. Os gêneros se distinguiriam uns dos outros por traços formais (sintaxe e léxico) et por marcas enunciativas específicas, sem deixar de lado as especificidades de pontuação e de formatação. Uma resposta desse tipo supõe um modelo global no qual os gêneros reúnem textos (sobre os quais incide a análise) e são, eles mesmos, integrados em discursos. Contesto essa abordagem em nome da empiria: os gêneros, da maneira como são governados pelo uso, não permitem uma integração dessa natureza. Demonstrarei, a partir de exemplos tomados das práticas de leitura de histórias em quadrinhos, que os gêneros são por natureza heterogêneos e que sua descrição não pode ser fixada. É preciso então compreender em que sentido o gênero se constitui como uma resposta de categorização que corresponde a uma hermenêutica da apropriação, bem como as razões pelas quais essa compreensão pragmática da noção de gênero, presente desde a origem, tanto em Platão como em Aristóteles, acabou por apagar as teorias.
Palestra: A aspectualidade espacial. Pistas teóricas e perspectivas de aplicação.
Prof. Dr. Sémir Badir (FNRS/Université de Liège - Bélgica)
29/09 - 9h - Bloco Didático de Letras
Nossa proposta diz respeito à elaboração do conceito de aspectualidade aspectual e às condições de sua aplicação. Para tanto, procederemos em cinco etapas:
1. Começaremos por uma breve apresentação do conceito linguístico de aspecto.
2. Continuaremos pela questão de sua retomada na semiótica, que se fez segundo três eixos de investigação:
• pela aplicação a objetos não-linguageiros;
• pela desvinculação dos predicados actanciais e extensão aos predicados de estado;
• pela desvinculação da categoria temporal e extensão às categorias espacial e actorial; é segundo esse último eixo que podemos considerar a conceitualização de uma aspectualidade espacial.
3. A conceitualização da aspectualidade espacial foi desenvolvida por três semioticistas: Denis Bertrand em L’espace et le sens (1985), Jacques Fontanille em Les espaces subjectifs (1989) e Claude Zilberberg, especialmente em Elementos de Semiótica Tensiva (2011 [2006]). Apresentaremos e faremos comparações entre esses três modelos teóricos.
4. Nosso modelo teórico propõe então uma síntese dos três precedentes ao articular, o que nenhum de nossos predecessores procurou fazer, as subcategorias da aspectualidade espacial com as subcategorias da espacialidade. Esse modelo se apresenta sob a forma do quadro abaixo:
Dimensões
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Espaço 1 (a linha) |
Espaço 2 (o plano) |
Espaço 3 (o volume) |
Espace “4” (plano / volume + tempo) |
Subcategorias aspectuais (“Foremas”, CZ) |
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Direção (CZ) |
Descontínuo / Contínuo (DB) |
Local / Global (DB)
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Aberto / Fechado (CZ) Dispersão / Agrupamento (JF) |
Aleatório / Estruturado Escancarado / Hermético (CZ) Saída / Entrada (JF) |
Posição (CZ) |
Traçado (indicial) / Formal (simbólico) |
Háptico / Óptico Monumental / Lírico |
Exterior / Interior (CZ) Afastado / Próximo (DB) Afastamento / Aproximação (JF) |
Desconectado / Conectado Alheio / Íntimo (CZ) |
Elã (CZ) |
Segmentado / Vetorial |
Vago / Definido |
Repouso / Deslocamento (CZ) Extensão / Concentração (JF) |
Sequencial / Concomitante Fixidez / Ubiquidade (CZ) |
5. A pintura oferecerá um domínio de experiência para a aplicação das subcategorias da aspectualidade espacial aos objetos bidimensionais, permitindo averiguar a autonomia de cada uma.
Nota biográfica
Sémir Badir é pesquisador do Fonds de la Recherche Scientifique, FRS-FNRS, atuando na Universidade de Liège. Sua pesquisa visa os aspectos epistemológicos das teorias linguísticas e semiótica, bem como os modelos conceituais aplicados às formas linguísticas. Escreveu as obras Hjelmslev (Les Belles-Lettres, 2000), Saussure. La langue et sa représentation (L’Harmattan, 2001), Epistémologie sémiotique. La théorie du langage de Louis Hjelmslev (Honoré Champion, 2014). Co-dirigiu cerca de vinte livros e números de revistas (Protée, Semen, Semiotica, Visible…), entre os quais Pratiques émergentes et pensée du médium (com François Provenzano) e L’image peut-elle nier? (com Maria Giulia Dondero), ambos publicados em 2017. Foi o co-responsável de diversos projetos internacionais de pesquisa (com Waldir Beividas, convenção WBI-CAPES 2011-2013; com Nicolas Couégnas, Driss Ablali e Érik Bertin, projet0 ANR 2014-2017).